terça-feira, 27 de janeiro de 2009

OS RICOS QUE PAGUEM A CONTA

Jefferson Tramontini

Como acontece de tempos em tempos, vivemos mais uma crise do capitalismo. No entanto, diferente das diversas crises acontecidas durante os anos 1990, auge do neoliberalismo, que varreram diversas das economias periféricas, a crise atual originou-se no centro do sistema, destacadamente na maior potência imperialista, os Estados Unidos da América, e é justamente provocada pela quase plena desregulamentação e financeirização do capital.

A liberalização, que descolou o capital financeiro da produção real ao longo dos últimos 30 anos chegou a um estágio insuportável. Os chamados derivativos, o capital fictício que circula pelo mundo, soma mais de 10 vezes o valor da economia real. Cedo ou tarde a bomba relógio estouraria.

O estopim foi a inadimplência nos financiamentos de segunda linha (subprime) no mercado imobiliário dos EUA. A falta de pagamento na ponta, provocada por estagnação da renda e juros elevados, fez com que toda a pirâmide desmoronasse. Os bancos, fortemente alavancados, passaram a uma falta de liquidez, impedindo o pagamento aos fundos de investimentos e assim sucessivamente. Como toda a cadeia é artificial, não havendo de fato nem o dinheiro nem as garantias, as instituições financeiras passaram a ter dificuldades de liquidez e o efeito imediato foi a escassez de crédito em todas as áreas, afetando a produção real e os empregos.

Como os ditos investimentos circulam facilmente o planeta, especialmente EUA e União Européia, rapidamente a crise se espalhou pelo mundo. Afetando as economias centrais, também a periferia, dependente, foi afetada.

Apesar do marco de início dessa crise ter se dado no mercado imobiliário dos EUA, ela realmente começou antes. A escalada dos preços das commodities, como petróleo e grãos, no período de 2007 e 2008 foi parte desse processo. A fuga dos capitais especulativos para investimentos mais seguros, especialmente nos mercados futuros, triplicaram o preço do barril de petróleo e elevaram em grande escala os preços dos alimentos, remunerando muito bem os especuladores, mas espalhando a fome a milhões em todo o globo.

A saída para a crise de liquidez foi, sem novidades, recorrer ao erário público. Dinheiro público, dos impostos pagos pelas populações dos diversos países, em especial trabalhadores, desviados para o caixa de grandes corporações que apostaram no cassino do mercado financeiro desregulamentado e perderam. Mais de 5 trilhões de dólares já foram injetados pelos vários governos no mercado e a crise internacional ainda não foi debelada.

Na atual fase dessa que é tida como a maior crise capitalista desde a grande depressão de 1929, os proprietários do capital, real e fictício, procuram alguém para pagar a conta da crise que eles mesmos provocaram. Como nas crises anteriores, o alvo preferencial são os trabalhadores.

Apenas nos EUA, desde dezembro de 2007, mais de 2,5 milhões de empregos foram pulverizados. Em apenas um dia, em 26 de janeiro de 2009, grandes corporações da Europa, EUA e Japão cortaram mais de 79 mil empregos. Uma dessas mega-empresas, o laboratório farmacêutico Pfizer, demitiu mais de 8 mil trabalhadores no mesmo dia em que se tornou a maior empresa do mundo no setor ao adquirir a Wyeth por 68 bilhões de dólares.

No Brasil, em que pese as melhores condições que o país possui para enfrentar as dificuldades, a crise também já afeta gravemente os empregos. A estimativa do Ministério do Trabalho é de que 650 mil empregos formais tenham sido perdidos até agora.

No entanto, diferente dos países centrais, o Brasil, mesmo sofrendo os efeitos da crise, continua crescendo sua economia. Mesmo assim diversas empresas têm recebido dinheiro público para manter suas contas equilibradas e, mesmo assim, têm aumentado as demissões em escala.

Os proprietários das grandes corporações em todo o mundo, e no Brasil isso tem ficado muito claro, tentam jogar a conta da crise nas costas dos trabalhadores. As transnacionais aumentam as remessas de lucro para suas matrizes, facilitadas pela vista grossa dos órgãos que deveriam fiscalizá-las, em especial o Banco Central. O lobby patronal pela flexibilização dos direitos trabalhistas também é intenso e conta com o decidido apoio das corporações midiáticas.

Propostas indecentes como redução de salários, o aumento do prazo de suspensão dos contratos de trabalho, entre outras, têm sido apresentadas pelos ricos grandes empresários como a única saída para a crise, a única forma de evitar a bancarrota nacional. Falam em sacrifícios, mas não abrem mão de seus gordos dividendos nem das altíssimas remunerações de seus executivos.

Empresas anunciam demissões alegando dificuldades financeiras e ao mesmo tempo suas ações sobem nas roletas das bolsas de valores. Os patrões tentam aproveitar a crise para aumentar a taxa de exploração sobre os trabalhadores.

O governo Lula, eleito pela força dos trabalhadores brasileiros, tem tomado medidas para estimular a economia nacional, mas essas ainda se mostram insuficientes, inclusive pela não exigência de contrapartidas das empresas, especialmente no tocante à manutenção dos empregos.

A economia brasileira tem crescido nos últimos anos devido ao aumento do investimento público, ao fortalecimento do mercado interno, aos aumentos dos salários e, principalmente, pelo aumento do número de empregos. A solução para a crise, destacadamente nos países periféricos como o Brasil, nem de longe passa pelas demissões. Ao contrário, o aumento dos empregos e da massa salarial, permitindo o consumo de milhões de famílias de trabalhadores é a real possibilidade de crescimento e proteção da economia brasileira dos efeitos da crise internacional.

Nessa conjuntura, a unidade do movimento sindical se faz urgente. Alguns passos já foram dados nesse sentido, como as paralisações de empresas que demitem e as manifestações unitárias pela redução das taxas de juros, que forçaram o Banco Central a reduzir a Selic em 1pp.

Porém, muito ainda há de se fazer para que os trabalhadores possam superar a crise e derrotar a sede de lucro dos patrões. Para isso é necessário superar os exclusivismos, abandonar vaidades e adesismos, avançando unificadamente para lutas mais vigorosas e de massa.

Os trabalhadores devem jogar o peso da crise sobre as costas dos verdadeiros responsáveis por ela.

Jefferson Tramontini é secretário sindical do PCdoB/PR, secretário de comunicação da CTB/PR e dirigente do Sindicato dos Bancários de Curitiba

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