segunda-feira, 18 de maio de 2009

1º DE MAIO: DIA DO TRABALHO OU DO TRABALHADOR?

Jefferson Andrade* 

Há algum tempo temos visto um crescimento sem precedentes de referências ao dia 1º de maio como “dia do trabalho”, tanto na imprensa, em agendas oficiais e até mesmo na marcação de calendários ao referir-se à razão do feriado.

 

Não raro, inclusive, vemos alguns apresentadores de televisão, jornais e rádio, comentaristas, políticos e palpiteiros em geral, fazendo piada sobre “o dia do trabalho” ser feriado. E também não raro, vemos esses mesmos fazendo piada sobre “o brasileiro não querer trabalhar nem mesmo no ‘dia do trabalho’.”.

 

De outro lado, vemos o cada vez mais despolitizado e esvaziado movimento sindical brasileiro deixar de lado as tradicionais manifestações dessa data, substituindo-as por festas com patrocinadores privados, ou fazendo precárias, esvaziadas e escassas manifestações, sempre em lugares escondidos, deixando de apontar ao grande público essa data como tendo algum outro significado.

 

Isso nos leva à pergunta título desse texto: é dia do trabalho, ou do trabalhador?

 

O momento histórico que marca a data de 1º de maio ocorre na cidade de Chicago, maior centro industrial dos Estados Unidos, no ano de 1886.

 

Naquele tempo os trabalhadores estadunidenses eram submetidos a um regime de trabalho sem qualquer tipo de garantia, com jornadas de 16 horas diárias. E foi essa a razão que levou milhares de trabalhadores às ruas naquele 1886, em grandes manifestações, organizadas no final de abril realizadas a partir de 1º de maio.

 

A principal reivindicação dos manifestantes era a redução da jornada de trabalho das 16, para 8 horas diárias, o que era visto com grande reprovação pelos empresários e pelo governo, que consideravam um absurdo querer retirar das fábricas metade de sua produtividade, tornando o custo das empresas impraticável.

 

Aquelas manifestações nas ruas de Chicago foram violentamente reprimidas pelo aparato oficial, tendo a polícia assassinado, oficialmente, 12 trabalhadores. Ao final do ciclo de manifestações, somou-se a esse trágico saldo centenas de feridos e, sobretudo, 5 trabalhadores, tidos como líderes daquele movimento, enforcados.

 

Estima-se, no entanto, que além dos 12 executados e 5 enforcados, dezenas de outros trabalhadores tenham sido mortos nos confrontos com a polícia. Mas suas mortes jamais foram reconhecidas oficialmente.

 

Essa série de assassinato de trabalhadores que lutavam pela redução da jornada de trabalho e melhoria de suas condições laborais levou, em 20 de junho de 1889, a Segunda Internacional Socialista, reunida em Paris, a declarar o dia 1º de maio como Dia Internacional de Luta Pela Jornada de 8 Horas, com manifestações sendo convocadas em todo o mundo.

 

Como fruto dessas mobilizações, já em 1890 o Senado estadunidense termina por aprovar a lei de redução da jornada de trabalho, instituindo a jornada de 8 horas diárias. No entanto, a história do 1º de maio ainda continuava pelo mundo.

 

Em 1891, na manifestação convocada pela Segunda Internacional Socialista, no 1º de maio na França, a reação policial é de extrema violência. Resultado da violência do Estado contra a manifestação foi a morte de pelo menos 10 manifestantes, o que acaba por reforçar a data como dia internacional de mobilização dos trabalhadores.

 

Nesse rumo, o 1º de maio como data de luta ganha força em todo o mundo, marcado por numerosas e grandes manifestações de luta por melhoria nas condições de trabalho, melhoria nos salários e redução da jornada de trabalho.

 

Esse histórico de mobilizações levou, apenas em 1919, o Senado francês a retificar a jornada de trabalho de 8 horas. No mesmo ato, o Senado francês institui o 1º de maio desse ano como feriado.

 

Mas foi apenas em 1920, na recém nascida da revolução operária, União Soviética, que o 1º de maio é instituído como feriado nacional todos os anos.

 

Nesse tempo, e também até anos mais tarde, o 1º de maio foi marcado por diversas manifestações e milhares de trabalhadores assassinados em todo o mundo, inclusive no Brasil, a partir da primeira greve geral, em 1917.

 

Hoje, o 1º de maio é reconhecido em quase todos os países do mundo como feriado internacional, em homenagem ao Dia do Trabalhador, homenagem a todos aqueles que lutaram e morreram nas lutas pela redução da jornada de trabalho, melhoria das condições laborais e salários dignos. Tal reconhecimento é feito inclusive pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), em decisão ratificada por quase todos os países do globo.

 

Dois dos poucos países cujos governos não reconhecem o 1º de maio como dia do trabalhador são Estados Unidos e Austrália. O primeiro porque se recusa a reconhecer a arbitrariedade e a violência de seus atos em 1886, bem como a legitimidade daquele movimento. O segundo, porque tem a homenagem ao trabalhador em diferentes datas, variando em diversas regiões do país, por diversas razões locais.

 

Por essa razão, deixar de reconhecer o 1º de maio como Dia do Trabalhador, chamando-o de “Dia do Trabalho”, é como tornar a assassinar, desta vez a alma e a memória, de todos aqueles que lutaram e morreram, para que hoje os trabalhadores pudessem ter um pouco de dignidade e uma jornada de trabalho um pouco menos desumana.

 

1º de maio é Dia do Trabalhador. Que disser o contrário está a cometer um verdadeiro crime contra a humanidade.

Jefferson Andrade é autor do blog Pensamento Crítico 

Fonte: Pensamento Crítico

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