segunda-feira, 27 de junho de 2011

FHC, seu ponto de vista e alguns fatos

J. Tramontini

Na última semana, têm pipocado na imprensa diversas reportagens sobre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, devido ao seu aniversário de 80 anos.

Uma dessas matérias chamou atenção. Foi a entrevista que FHC concedeu a Heródoto Barbeiro e Ricardo Kotscho, da Record News. Bastante interessante, é verdade, mas parcial, de certa forma, como toda entrevista.

Seria interessante se pudéssemos contrapor, de imediato, algumas das declarações de FHC durante a entrevista. Como não seria possível, vamos elencar algumas dessas questões, entre tantas outras:


1 – “Espero que não tenhamos saudades dos EUA.”
FHC afirmou que a ascenção político-econômica da China pode ser boa para o Brasil e que a multipolaridade é o melhor. Também afirmou que intervenções militares, como na Líbia, não resolvem os probemas.

No entanto, durante seu governo, FHC foi subserviente aos ditames de Washington. A política externa do Brasil era vassala dos desejos da potência do norte, tanto que já estava tudo preparado, em 2002, para implantação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), que se daria em 2003. Cabe lembrar também que, o governo FHC apoiou o “governo” instalado a partir do golpe de Estado, frustrado, contra Hugo Chávez na Venezuela, em 2002.

2 - “As pessoas sobem na vida...”
FHC disse que as grandes decisões nacionais, hoje, não passam pelo Congresso Nacional, o que lamenta. Afirmou ser positiva a mobilidade e a ascenção social de novas camadas, o que as leva a novos postos políticos. O lado ruim, segundo o tucano, é a falta de experiência de mando desses novos atores.

No entanto, FHC se esqueceu de dizer que, durante seus 8 anos de mandato, a mobilidade social foi apenas para baixo. Desemprego galopante e estagnação econômica foram suas marcas, bem como a subjugação, na prática, do Congresso aos ditames do Planalto.

3 – “Não houve ruptura...”
FHC afirmou que, pessoalmente, não houve rompimento entre ele e Lula, que isso se deu apenas por conta de disputas eleitorais. O tucano também disse que ele e Lula têm “línguas soltas”, mas que o petista fala coisas que não precisa. Criticou a afirmação de Lula que diz ter recebido uma herança maldita em 2003 e que a inflação só disparou em 2002 por culpa do medo que o mundo tinha do petista. 

No entanto, FHC não fez nenhuma menção ao fato de o Brasil encontrar-se, ao final de seu governo, à beira da bancarrota. Também não tratou de suas declarações e artigos recentes tentando dizer ao Brasil que rumo deve seguir. Quanto à herança maldita, é de largo conhecimento e sofremos ainda as consequencias dela.

4 – “Privatização mais limpa da história da humanidade...”
FHC afirmou que não houve a chamada “privataria”. Que todas as vendas foram limpas. Que, no caso das telecomunicações, o que houve foi apenas o esforço para aumentar o número de concorrentes. Que é mentira que a Petrobras seria privatizada, pois ela estaria apenas sendo modernizada. Que as estatais se tornaram empresas competitivas. Que o Brasil tem orgulho do que foi feito e como está hoje.

No entanto, o presidente de honra do PSDB esqueceu de mencionar que as privatizações foram generosas doações de patrimônio público a interesses privados nacionais e estrangeiros. Não disse que a Vale do Rio Doce foi doada por pouco mais de R$3 bilhões, oitava parte de seu lucro líquido anual e uma mísera parte do valor de seu patrimônio, além do fato de, por inúmeros vícios, o leilão de "doação" estar questionado judicialmente. Quanto à Petrobras, o tucano não tratou do sucateamento, que provocou vários acidentes, incluindo o afundamento da plataforma P-36. Também não falou das perseguições e demissões de funcionários das estatais. Também não tratou das mudanças legais efetuadas para que as empresas privatizadas pudessem “deslanchar” como nas telecomunicações e nos recursos humanos das empresas federais. Não mencionou o fato de que nem mesmo a dívida pública regrediu, ao contrário. Sem falar das imensas dificuldades encontradas pelo país para se desenvolver sem suas empresas estratégicas.

5 – “Sou um democrata.”
FHC afirmou que é um democrata e que fez um governo democrático, onde não mandou prender ninguém e não perseguiu ninguém.

No entanto, basta lembrar de alguns episódios para desmascarar as afirmações do grão-tucano. Em 1995, FHC mandou o exército, com seus blindados, para dentro das unidades da Petrobras para esmagar os petroleiros em greve. Com o auxílio conservador do judiciário e de governos estaduais de mesma linha, o governo FHC perseguiu os movimentos sociais, impôs multas impagáveis a sindicatos de diversas categorias, criminalizou as reivindicações populares, arrochou salários e ofendeu aposentados, além de, sob seu governo, índios terem sido espancados por policiais durante as comemorações dos 500 anos de descobrimento do Brasil.

O Brasil mudou

O Brasil, felizmente, mudou de FHC até hoje. O povo brasileiro acordou e descobriu que é possível construir, por si mesmo, um lugar melhor para se viver. É verdade que os dois mandatos de Lula não foram capazes de eliminar os nefastos efeitos da herança maldita tucana, em parte por suas próprias opções políticas. Mas também é verdade que o Brasil tem avançado, crescido economicamente, distribuído renda e oportunidades ao seu povo. Ainda temos muito a melhorar, mas com certeza nosso país e nosso povo estão em melhores condições para continuar avançando.

*Jefferson Tramontini é membro da coordenação nacional dos Bancários Classistas, da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil e autor do blog Classista

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