domingo, 26 de junho de 2011

Política fast food

Luciano Rezende *

Recentemente, ouvi de um amigo professor de biologia que os estudantes estão sendo acostumados a uma educação do tipo “fast food”, onde a informação tem que chegar “mastigada”, pronta. Pesquisar um assunto passou a ser, para muitos, uma perda de tempo. Tem razão.

Na atualidade, esse fenômeno parece extrapolar a escola. Atinge outros ramos e setores da sociedade. Na política também, vê-se cada vez mais a prática de quem, por preguiça ou falta de tempo, vive a reproduzir discursos prontos. Não têm o compromisso de investigar na fonte. Quando muito, trocam um estudo mais atento por uma leitura superficial na internet.

Talvez seja a polêmica em torno do Novo Código Florestal a maior demonstração do lodaçal que se encontram os aderentes da política fast food. Substituem a leitura do projeto por impressões, “achismos”.



Um “fast-foodista” esperneia que o relator do projeto apareceu numa foto com Kátia Abreu e, com isso, conclui que ele está a favor dos ruralistas. Outro ameniza lembrando que a Contag também é favorável ao conjunto da obra. Um terceiro argumenta que o MST é contra. Mais um entra no profícuo debate e alega que Míriam Leitão, porta-voz do conservadorismo, também é contra. Mas as ONGs internacionais são financiadas por multinacionais, recorda uma última voz. E nessa balbúrdia, cada um vai cultivando sua convicção, sem que nenhum deles tenha a ousadia de buscar a informação na origem. São caçadores de pistas, nada mais.

Assim, o tal senso-crítico é mandado às favas. Dá muito trabalho. Mas é necessário ter uma opinião. Que fazer então? Seguem alguns rastros ou acionam o “sexto sentido” político. Na tentativa de justificar o injustificável, se vangloriam do tal tirocínio político. A roleta russa continua disparando para todos os lados.

Tema polêmico merece mais estudo ainda. E se equivoca quem pensa bastar conhecimento específico na área. Esse, inclusive, é um dos grandes equívocos do documento produzido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Associação Brasileira de Ciências (ABC). O relatório é abordado pelo viés biológico, desconsiderando outros campos do saber, como as ciências econômicas, sociais e, sobretudo, a questão política.

Quando o Brasil estiver explorando a pleno vapor o petróleo do Pré-Sal e houver uma pressão ambientalista internacional, baseada em estudos científicos para limitarmos a extração, o que faremos? Respondo: deverá ser tomada uma decisão política, baseada em um projeto de Nação pautado pelo desenvolvimento econômico e social, amenizando os impactos ambientais, inerentes da atividade. E não o contrário. 

A ciência não é desconecta da política como querem fazer crer os positivistas de plantão. As decisões políticas devem respeitar as contribuições científicas, mas também deve levar em conta as necessidades objetivas do povo, como a produção de alimentos e o uso soberano de seus recursos naturais diversos.

Opiniões simplistas, apesar de serem fáceis na elaboração, não contribuem em nada, pelo contrário, ajuda a confundir. O debate não pode se compartimentalizar em torno de um campo do saber, mas deve ser integrado e concebido a partir de um Projeto Nacional de Desenvolvimento, o que exige muita dedicação.

A interpretação dos fatos através da abordagem materialista histórica dialética não é instantânea. É custosa e deve consumir muito tempo de estudo.

*Luciano Rezende é engenheiro agrônomo, mestre em Entomologia e doutorando em Genética. Professor do Instituto Federal de Alagoas.


Fonte: Vermelho


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