domingo, 16 de outubro de 2011

O Ministério do Esporte e a máfia do jornalismo do rio Tietê da ‘Veja’

Osvaldo Bertolino*

Quem conhece minimamente a cidade de São Paulo sabe que o rio Tietê é quase sólido, tal a densidade de dejetos que correm nele. Ao seu lado funciona a Editora Abril, que edita a revista Veja. Comparando um e outra, fica difícil estabelecer qual dos dois é mais asqueroso. Um desses dejetos jornalístico está na edição que começa a circular hoje, com uma de suas clássicas “reporcagem ” acusando o ministro do Esporte, Orlando Silva, de “montar esquema de corrupção”.

A Veja, que já confessou ser dela o nefasto e putrefato programa de governo neoliberal, tenta, com esse jornalismo do rio Tietê, se cacifar como uma poderosa fábrica de "crises". A fórmula é: prognosticam-se o caos e, com isso, os "escândalos" conquistam as primeiras páginas. Jornais e dirigentes políticos direitistas acabam formando uma espécie de consórcio que se auto-alimenta e se manipula mutuamente na produção e na divulgação das calúnias.


Declarações, fatos ou números que se contraponham a elas são ignorados; só é levado ao público o que combina com aquilo que esse tipo de jornalismo do rio Tietê quer dizer. As acusações, convenientemente, baseiam-se em fontes sem a menor capacidade para a comprovação do que dizem. Neste caso, por exemplo, tudo o que Veja revela está baseado em declarações de um obscuro personagem, um tal João Dias Ferreira, policial militar que teria sido militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) preso no ano passado com outras quatro pessoas por desviar dinheiro de um programa criado pelo governo federal para incentivar crianças carentes a praticar atividades esportivas.

Quando a “reporcagem” tenta apresentar algo que sustente o que publica não diz nada com nada e fica o dito pelo não dito. As afirmações não passam da velha malandragem de dar crédito ao que o denunciante apenas ouviu falar ou diz ter visto. Por que e por qual meio essas declarações foram feitas não está dito. É uma mistura de arrogância, grosseria, ignorância e, mais que tudo, politicagem desclassificada.

Marola

Para o jornalismo do rio Tietê, é fácil falar em crise. Tudo é crise, tudo parece o fim dos tempos. Mas se, a julgar pelo seu noticiário, vivemos uma sucessão infernal de crises — configurando uma profunda e estrondosa catástrofe política, moral e ética — então por que será que elas, mal começam a pipocar, em pouco tempo desaparecem? A resposta: as crises são fabricadas. O que ontem parecia nitroglicerina pura simplesmente some das conversas e do noticiário como se fosse um assunto secundário.

Crise para valer é aquela que tem começo, meio e um fim contundente e definitivo. O episódio de Watergate, nos Estados Unidos, não parecia uma crise quando começou, mas ganhou corpo e terminou com o afastamento do ex-presidente Richard Nixon. Essa foi uma crise de verdade, como a desatada no Brasil pelas denúncias de Pedro Collor de Mello contra o irmão presidente: ela não arrefeceu de uma semana para a outra, e só terminou com o impeachment de Fernando Collor.

O que a mídia faz muito — principalmente o jornalismo do rio Tietê — é marola. Desde que o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva tomou posse em 2003, tivemos várias marolas e nenhuma crise real. É um comportamento condizente com quem nasceu por tramóias e se formou com o adubo da corrupção. A mídia em geral e a Abril em particular são como a máfia da Itália de tempos recentes, quando o crime vivia na ante-sala dos melhores endereços. Por aqui, essa máfia midiática também se especializou em apontar o dedo sujo para os outros com falsas denúncias de “corrupção”.   

Embriões

A equação que sustenta esse teorema é a de que os deslizes éticos, por sua proliferação ou institucionalização, têm origem na estrutura de classes do país — que se reflete na composição do poder político. Eis a explicação para as falsas denúncias que pipocam na mídia. Ela não se tornou mais investigativa e comprometida com o cidadão da noite para o dia. Nem as somas arroladas nas denúncias são extravagantes.

A proliferação de denúncias ocorre pelo simples e fundamental fato de que o Brasil entrou num cenário de reacomodação dos interesses de classes. A armadilha é imaginar que uma onda de moralidade despontou no horizonte. Confiar na apuração de denúncias de corrupção pelos que se beneficiam da velha estrutura social forjada pela elite corrupta brasileira — como é o caso flagrante do jornalismo do rio Tietê — é como dar a chave do galinheiro às raposas.

A patetice panfletária de Veja não pára em pé nem um segundo. Ninguém neste país tem mais moral do que os comunistas quando o assunto é a ética verdadeira. Como diria Nelson Rodrigues, até "um paralelepípedo analfabeto, uma cabra vadia ou um bode de charrete" saberiam o real sentido de “reporcagens” como essa. Elas revelam os embriões de dois cenários que estão se desenvolvendo para o processo eleitoral de 2012 e 2014. É só isso.

*Osvaldo Bertolino é jornalista, pesquisador da Fundação Maurício Grabois e editor do portal desta instituição.


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