segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Uma carta a Oscar Niemeyer


O secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Ricardo Abreu Alemão, escreveu uma carta em homenagem a Oscar Niemeyer, quando ele completou 100 anos, em 2007. Segundo Alemão, Niemeyer foi um dos maiores comunistas brasileiros também exemplo de artista e de vida. 

Alemão, que teve oportunidades de encontrar o arquiteto, destacou a simplicidade de Niemeyer e lembrou que ele pôde testemunhar os 90 anos da história do PCdoB. A carta foi entregue em forma de quadro para o comunista, que a recebeu com gratidão. Leia abaixo a íntegra da carta: 

Carta ao camarada Oscar Niemeyer

Aqui em Fortaleza, na companhia de Zizia e de minhas filhas Maria Clara e Sofia, acabo de assistir na TV mais um, entre as dezenas de documentários e matérias realizadas por ocasião de seu centenário. Muito emocionado, o jeito que arranjei de extravasar foi escrever-te algumas palavras.

Oscar, camarada, companheiro, nos vimos e nos falamos apenas uma vez, em uma campanha eleitoral do nosso Partido no seu Rio de Janeiro. Na ocasião conversávamos em uma roda com a presença de João Amazonas. Entretanto, na verdade nos vimos, nos vemos e nos veremos muito mais. Muitas vezes sem percebermos. Quantas vezes não me deslumbrei com obras suas? Não namorei dentro delas, deitado ou encostado nelas? Nos encontramos em atividades políticas, nas páginas de Jorge Amado, em conversas mediadas por outras pessoas sobre a futura sede da UNE na Praia do Flamengo, projetada por você?


Quantas vezes não nos encontramos no Memorial da América Latina, principalmente quando ocorreu lá o Congresso da OCLAE? E nas Bienais? E continuaremos nos encontrando, pois é impossível ser brasileiro e ainda mais brasileiro e revolucionário, e não te encontrar sempre por aí na luta e na vida, com você pessoalmente ou com os inúmeros frutos de seu trabalho profissional e militante.

Você continuava a entrevista enquanto Maria Clara e Sofia corriam nuas na frente da TV. Haviam saído do banho quando você respondia de forma magistralmente sintética e simples uma pergunta sobre uma suposta morte do comunismo. O que morrerá, dizia você, é o capitalismo injusto, pois o comunismo é ainda uma idéia, e ideais não morrem assim. Neste instante elas corriam, pulavam e se divertiam em frente à TV, parecendo festejar a sua resposta.

Embora não estivessem te assistindo, elas eram para mim a própria representação da sua resposta. Como dizia Gonzaguinha, era a pureza da resposta das crianças, era a vida. E como elas são bonitas! Já que não sou arquiteto nem artista plástico, pelo menos da beleza das minhas filhas posso me orgulhar. 

Quando Maria Clara e Sofia completarem os seus 100 anos, no início do século 22, nós já teremos mudado bastante esta vida. Essa sua confiança no futuro socialista e no além-futuro comunista, essa sua capacidade de fazer “agitprop”, essa sua vitalidade espirituosa, foram o meu melhor presente de ano novo. Você é um dos camaradas cuja vida se identifica plenamente com a vida do Partido e portanto com a história de nosso povo. Sua centenária vida tem a grandeza moral que corresponde ao nosso Partido.

O ano de 2007 foi marcado pelos seus 100 anos. E como você foi bem nas entrevistas! E como estava inspirado nas declarações ao programa de TV do Partido! Camarada, você não deve ter idéia da contribuição que deu para nossa causa com as suas palavras. Palavras sábias, espontâneas, intuitivas, experientes e calculadas, sobre a luta dos trabalhadores, a arte e a cultura popular, a identidade brasileira, a luta antiimperialista, o Governo Lula, a luta pelo socialismo e o porvir comunista. Obrigado, camarada!

Obrigado. É assim que me sinto, livre e conscientemente obrigado a lutar a seu lado e de nossas companheiras e companheiros. Mais uma vez, obrigado! É como se renovasse a minha filiação, renovando as nossas esperanças e as nossas convicções enquanto te via e ouvia.

O ano de 2008 já nascerá tombado, a partir da fortaleza inabalável das idéias em que acredita, de seu caráter e dignidade. A forma gráfica do número oito de 2008, quando tombado feito patrimônio futurístico, de maior valor que o histórico, se transformará em símbolo do infinito. Infinito valor do conhecimento e da solidariedade humana.

Valeu Niemeyer! E mais vale o que será. Como você gosta de dizer, vamos juntos e de mãos dadas.

Fortaleza, 31 de dezembro de 2007

Fonte: Vermelho

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