segunda-feira, 13 de abril de 2015

Eduardo Galeano. Presente!

Uma segunda-feira que poderia ter sido como todas as outras, mas esta, 13 de abril de 2015, foi diferente. Foi o dia em que a América Latina amanheceu mais triste: perdemos Eduardo Galeano. Por volta das 9h30 da manhã começam os comentários nas redes sociais, amigos de todos os países latino-americanos comentam, com profunda tristeza, a morte do escritor uruguaio. Em instantes, centenas de sites confirmam a notícia. Eduardo Galeano se foi, aos 74 anos de idade.

Eduardo Galeano foi o primeiro a receber o título de Cidadão Ilustre do Mercosul, a homenagem se deu em razão da contribuição de sua obra à cultura, à consolidação da identidade latino-americana e à integração regional. Mais tarde, outras figuras relevantes também foram homenageadas, entre elas Lula e Oscar Niemeyer.


O escritor, que ousou mexer nas cicatrizes mal fechadas de um continente marcado por exploração e resistência, trouxe à tona as mazelas das veias que nunca fecharam da América Latina. A obra de Galeano ensinou a diversas gerações de latino-americanos sobre a liberdade, a democracia, a humanidade e a importância do abraço (este último no seu Livro dos Abraços, considerado o mais ousado de sua carreira).

Em As veias abertas da América Latina, publicado em 1971, Galeano analisa a história do continente desde a invasão espanhola até o período contemporâneo, em que a exploração continua, porém de outra forma, por meio da dominação econômica estadunidense. A obra, que se tornou um clássico da literatura de esquerda latino-americana, foi fundamental para a afirmação de uma identidade continental dos povos da região.

Galeano sofreu a repressão da ditadura uruguaia e foi exilado na Argentina, onde teve seu nome colocado na lista dos esquadrões da morte com a chegada do golpe militar liderado pelo general Jorge Videla. Naquele período de ascensão dos regimes ditatoriais em todo o continente, viveu na Espanha e iniciou sua trilogia Memória do Fogo. Só voltou ao seu amado Uruguai em 1985, depois da redemocratização do país.

Como muitos meninos e meninas latino-americanos, Galeano sonhou em ser jogador de futebol. Por sorte ou azar, não há como saber, o desejo não se tornou realidade, mas o escritor tratou de retratar o sonho em algumas de suas obras, entre elas O futebol de sol e sombra, de 1995.

Em seu Livro dos Abraços, Galeano valoriza a sutileza da palavra para apresentar sua visão sobre emoções, política, arte e outros temas inerentes à vida do cidadão comum. Uma crítica mordaz à sociedade capitalista moderna, a obra questiona a distorção de valores.

No texto A celebração da voz humana 2, Galeano faz uma ode à palavra: “Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde for. Porque todos, todos, temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada”.

Galeano comemorou a eleição do primeiro presidente de esquerda da história do Uruguai, Tabaré Vázquez, da Frente Ampla, em 2004, ao afirmar que os uruguaios “votaram contra o medo”. Em 2013 publicou o artigo A demonização de Hugo Chávez. O título irônico revela um brilhante texto em apoio ao então presidente da Venezuela. Junto a outros intelectuais de esquerda latino-americanos assinou um pedido de proclamação da independência de Porto Rico e escrevia periodicamente para jornais de esquerda dos Estados Unidos. Fez da palavra sua ferramenta de luta e defesa da liberdade.

Esta segunda-feira (13) fica marcada em nossa história, o dia em que a América Latina perdeu um de seus grandes mestres e precisou reafirmar o compromisso com a luta contra o imperialismo, pela liberdade e soberania de seu povo, como ele ensinou.


Por Mariana Serafini
Fonte: Vermelho

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