terça-feira, 17 de maio de 2016

A necessidade de uma ampla aliança democrática e popular em uma só voz

J. Tramontini*

O governo golpista já começa mostrando a que veio e a quem serve. Nenhuma medida pode ser tida como surpresa, pois é de amplo conhecimento que sua única função é retomar, em nosso país, o velho conhecido neoliberalismo, derrotado nas urnas pelo povo seguidamente desde 2002.

O que move o governo golpista é o desejo incontrolável da burguesia brasileira de ser subalterna, lacaia, das burguesias dos países centrais do capitalismo, destacadamente dos EUA. A elite brasileira, vira-latas por natureza, não tem projeto próprio e não aceita que outras classes brasileiras o tenham.

Portanto, nenhum espanto deve causar a nomeação de um ministério formado pela nata das oligarquias regionais, formado por homens brancos e ricos, e por herdeiros de tradicionais famílias do coronelismo político. Principalmente, não deve causar nenhum espanto a mudança de postura do oligopólio midiático para o velho chapa-branquismo, afinal, também pertence a famílias de mesmo pedigree.


Também ninguém pode se espantar com as medidas anunciadas e a anunciar. Reforma da previdência, reforma trabalhista, superávit primário, impostos, relações exteriores voltadas aos interesses dos EUA, privatizações, arrocho salarial, etc. Todas pertencem ao arcabouço pseudo-liberal que foi, de certa forma, estancado nos últimos treze anos. Todas essas medidas têm por objetivo esmagar os direitos do povo trabalhador para deixar os muito ricos, de dentro de fora do país, ainda mais ricos, enquanto joga a grande maioria dos brasileiros de volta à miséria.

Nenhuma surpresa. Golpearam, mais uma vez, a frágil democracia brasileira para obrigar o país a ser como quer essa elite vira-latas sem nenhum compromisso com seu próprio povo. E eles têm pressa. Executarão tudo com velocidade e voracidade. Um governo oriundo de um golpe de Estado, sem legitimidade, não necessita prestar contas. Mas buscarão ter, mesmo que fictícia, legitimidade. Esse é um dos papéis do oligopólio midiático, por exemplo.

Nesse aspecto, é um grande equívoco que setores da esquerda brasileira se ocupem em questionar o fato de não haver mulheres ou negros compondo o novo governo. É óbvio que a direita tupiniquim valoriza sempre seus caciques e que se esforça, desde sempre, para impedir que qualquer novidade surja. O novo sempre foi e continua sendo papel da esquerda. Sempre foi a esquerda que construiu grandes quadros operários, negros, mulheres, jovens, etc. É da sua natureza não diferenciar a capacidade política por cor de pele, gênero, local de nascimento, ou qualquer outra coisa.

Portanto, a formação do ministério golpista, além de nada surpreendente, desnuda seu conservadorismo. Deixa escancarada a ponte para o passado.

Nesses primeiros dias dessa fase do golpe muitos têm criticado o tal ministério por sua composição masculina e branca. É um erro. Nesse momento os golpistas buscam compensar essa “falha” na sua busca por legitimidade. E ainda poderão dizer que “ouviram o povo”. Deixemos que eles sejam exatamente o que são. E sejamos exatamente o que somos.

A questão central não se trata de representar a diversidade do povo brasileiro no governo golpista, mas sim de seu caráter de classe. Jamais poderão representar essa diversidade, pois não fazem parte dela. Por um acaso se houvessem mulheres ou negros no ministério mudaria sua representação fundamental, de classe? Claro que não. Esse é o ponto.

A presidente Dilma não foi afastada de seu legítimo posto por ser mulher, embora a maior parte das ofensas dirigidas a ela sejam consequência do machismo impregnado em nossa cultura, mas por representar, bem ou mal, o povo trabalhador, por significar a manutenção das portas das senzalas abertas. Esse é o motivo central do golpe perpetrado pela Casa Grande.

Discussões e reivindicações pós-modernas, segmentadas, apenas atrapalham a unidade necessária de classe e facilitam a busca dos golpistas por legitimidade. Essas demandas nada mais são que infrutífera influência pequeno-burguesa, individualista, no meio do movimento de classe dos trabalhadores. Dividem ao invés de construir uma única e poderosa voz. Cair nessa cantilena é fazer com que a fala seja proferida em microfone sem amplificador, seja feita para si mesmo e não para o conjunto do povo.

Se nessa quadra histórica se faz urgente uma ampla aliança com diversos setores da sociedade brasileira, a divisão dos trabalhadores em seus segmentos é um mau começo. O protagonismo, a voz, a fala deve ser da classe dos trabalhadores e não de um ou outro segmento de classe, conforme a circunstância.

A ampla aliança requer unidade dos trabalhadores para buscar outros setores democráticos. A intelectualidade, as camadas médias, eventualmente setores empresariais fora do viralatismo. Até mesmo boa parte dos segmentos que inicialmente apoiaram a queda da presidente legitimamente eleita pelos brasileiros. Sob a bandeira da defesa da democracia todos esses setores devem ser buscados e aliançados. Sem prejuízo de suas divergências, muitas profundas, mas sob a bandeira unitária da democracia brasileira para os brasileiros.

Porém, essa bandeira aglutinadora não é suficiente para a retomada da iniciativa política e para derrotar o golpe elitista em curso. Ela aglutina num primeiro momento, mas tende a se desgastar com as medidas de ataque aos direitos do povo trabalhador levadas a cabo pelo governo golpista. O medo e a desesperança são a derrota da democracia.

Então é preciso, nessa ampla aliança formada a partir da defesa democrática da volta da presidente legítima ao Palácio do Planalto, construir a bandeira capaz de impulsionar, animar e mobilizar o povo ao contra ataque.

Essa bandeira não se faz com uma grande lista de reivindicações de cada segmento, mas pela unificação em torno das reformas democráticas. E não se trata aqui de longos detalhamentos de cada uma delas, mas de unificar heterogêneos aliados em torno dos pontos chave.

O importante é dar esperança ao povo trabalhador para continuar e aumentar as mobilizações que tomam as ruas das cidades brasileiras. Impedir os golpistas de governar e, ao derrota-los, ter força suficiente para o Brasil e os brasileiros olharem para o seu próprio futuro tendo as rédeas de seu destino em suas próprias mãos.

Os golpistas falam, ininterruptamente, em “união nacional”, o que significa simplesmente o silêncio do povo. O caminho para a vitória democrática e popular passa por desmascarar essa falsa união. Por tornar evidente a luta de classes. Sem acordos com os golpistas, mas aliando os mais diversos setores de nossa sociedade em uma só voz.

*Jefferson Tramontini é editor do blog Classista

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